domingo, 15 de fevereiro de 2009

PRIVACIDADE

Prezados leitores,
A matéria que eu vou transcrever a seguir foi veiculada na página inicial da UOL no dia 15 de fevereiro de 2009.
Para os que gostam de escatologia (estudo sobre o fim dos tempos, para os leigos), essa notícia parece ser cumprimento de profecias apocalípticas.
Quero, porém, pedir vênia aos meus leitores de me abster de opinar. Gostaria que tirassem suas próprias conclusões a respeito. Aí vai!
"Google: entenda os efeitos da coleta de dados sobre a privacidade na web
Por Guilherme Felitti, editor-assistente do IDG Now!
(Publicada em 12 de fevereiro de 2009 às 07h00, Atualizada em 13 de fevereiro de 2009 às 19h53)
São Paulo – Latitude leva conhecimento do Google sobre usuários ao mundo real. Saiba os efeitos da coleta crescente de dados por uma empresa.
Ele sabe os assuntos sobre os quais você busca informações, com quem você tem amizades, as leituras que mais lhe agradam, os arquivos que estão no seu HD, as rotas que você pega pelas ruas, os acessos do seu site e quais tipos de propaganda você já demonstrou interesse.
Na semana passada, a capacidade do Google em coletar informações sobre você passou da coleta digital para entrar no mundo real, com o Google Latitude, serviço para celulares que indica a posição geográfica do usuário só depois de ser instalado, habilitado e configurado. É a primeira vez que a maior empresa de internet do mundo, líder absoluta tanto em buscas como na verba publicitária decorrente delas, sabe assumidamente onde os usuários cujos gostos e ações online tão bem conhece estão no mundo real.
Aproveitando a barreira física ultrapassada pelo Google no tipo de informação que a empresa tem sobre você, o IDG Now! resolveu traçar o perfil hipotético de um usuário convencional de internet que utiliza todos os serviços possíveis do buscador e, principalmente, que implicações isso pode ter nos dados coletados sobre você. Carro-chefe das operações do Google, a busca coleta um grande número de informações do usuário, seja pela sua própria natureza ou por processos que viabilizam a relação de resultados.
Em seu livro “A Busca”, o pesquisador norte-americano John Battelle chama os buscadores de “banco de dados das intenções”, já que a combinação de termos digitados pelo usuário tentam exprimir qual seu anseio ou sua dúvida no momento. A confidencialidade dos dados é garantida não apenas pelo Google, mas também por outros players que mexem com este tipo de informação, como Yahoo, Microsoft e AOL. Não são apenas os termos procurados, porém, que são guardados. Além do Google, empresas como Yahoo e Microsoft armazenam informações sobre o usuário que fez a busca, como número do IP e cookies para tornar a navegação mais customizada, que depois podem ser compartilhadas com parceiros dos buscadores.
Pelo Maps, o Google sabe não apenas endereços que interessam ao usuário como também os melhores caminhos usados para se chegar lá, como também, pela sua ferramenta de mashups, possíveis pontos de interesse, com classificações e opiniões, que podem ajudar a definir ainda mais seu gosto pessoal.
Ao criar uma conta no Reader, o usuário hipotético tem seu gosto por notícias rastreado seja pelos feeds inscritos como pela análise daqueles que são ou não lidos na página de estatísticas – há, inclusive, uma página com análises. No YouTube, um classificação parecida, mas para vídeos, também vai para as mãos do Google. No Calendar, sua agenda, com programas e compromissos, está disponível dentro do navegador. Para quem se arrisca à publicação de conteúdo, o Analytics dá o panorama da audiência do seu site ou blog, com fontes de tráfego, palavras-chave mais utilizadas e tempo médio gasto pelos seus leitores. Em caso relevante mais para os brasileiros, o Orkut é outro centro de coleta de informações pessoais, das comunidades que o usuário se filia ao grupo de amigos com quem ele troca mensagens ou divide gostos similares ou ao tempo gasto em perfis não adicionados, informação à qual o Google tem acesso.
Há, também, a coleta de dados no hardware do usuário. O Desktop indexa todo o conteúdo disponível no disco rígido para integrar a busca de documentos com a de conteúdos online usando o algoritmo do Google. Aposta mais recente da empresa no desktop, o Chrome foi alvo de críticas por parte dos defensores da privacidade pela tecnologia Omnibox, que mostra sugestões de URLs na barra de endereços do browser antes mesmo do usuário confirmar sua busca - um vídeo do grupo Consumer WatchDog explica as preocupações.
Sob o prisma dos críticos, o Google sabe até o que você pensa em buscar antes mesmo de concretizar os termos escolhidos. Por fim, o Latitude faz a triangulação entre antenas telefônicas para indicar a posição geográfica do usuário e compartilhar com amigos. Qualquer um pode ter um preview superficial do que o Google sabe sobre você dentro do History. Digite sua senha e veja, mapeados em rankings e gráficos, qual a hora do dia em que você mais busca, o termo que você mais procurou, os anúncios ou notícias ou os caminhos que já traçou.
Essa overdose de dados pessoais coletados é, por acaso, algo que consumidores deveriam se preocupar apenas com o Google? Não. Toda empresa de internet destinada a oferecer serviços para usuários, como e-mail online, leitor de notícias, indicações de caminhos, ferramentas de aferição de tráfego e redes sociais passa pelo mesmo impasse da coleta e retenção e dados. A diferença fundamental no caso do Google é que nenhum rival direto (Microsoft ou Yahoo) ou outras empresas com serviços potencialmente rivais (Facebook ou MapQuest para redes sociais e mapas, por exemplo) conta com tantos serviços que coletam informações tão variadas sobre o usuário que o buscador.
A constante pressão de grupos de privacidade eletrônica, encabeçados pela Electronic Frontier Foundation (EFF), fez com que o Google formulasse uma divisão responsável por responder às críticas de privacidade mais atuante que os semelhantes no Yahoo e na Microsoft, com direito a vídeos explicando questões alvo de críticas. Ainda assim, a sombra do crescente poder adquirido pelo Google pelo acúmulo de informações pessoais sobre seus usuários fez com que a companhia saísse do ranking elaborado pelo Ponemon Institute com as empresas mais confiáveis dos Estados Unidos.
Em 2008, o Google deixou a décima posição e não aparece mais entre as 20 companhias que merecem a confiança dos consumidores. A Microsoft também não aparece entre os primeiros, mas, segundo o instituto, melhorou sua posição em relação ao ano anterior. A American Express manteve a ponta nos dois anos.
As tensas relações entre a riqueza de dados coletados e os potenciais interesses de governos nas informações parece não ajudar muito na dissipação do medo entre os consumidores, ainda que o Google sempre tenha levado às cortes a política alardeada de lutar pela privacidade dos usuários. Nos Estados Unidos, o caso mais emblemático foi a vitória do Google na Justiça no começo de 2006 de um pedido do governo norte-americano dos buscadores entregarem dados relativos a buscas sobre sexo em determinado período. Yahoo, Microsoft e AOL concordaram. O Google levou o assunto aos tribunais e ganhou.
Nos casos em que perdeu na Justiça, como no encerramento da batalha legal entre o buscador e o Ministério Público Federal por criminosos no Orkut, o Google afirma ter cedido em situações que envolvem crimes. Os perigos de privacidade envolvendo não apenas o Google, mas qualquer outro serviço que colhe informações digitais de seus usuários, cai inevitavelmente em uma discussão mais ampla: o limite entre o respeitável e o invasivo demais para a publicidade eletrônica. A quantidade de informações colhidas é um prato cheio para que, teoricamente, anunciantes tenham uma ideia mais próxima à realidade dos consumidores que pretendem atingir e, consequentemente, façam campanhas mais focadas.
O Facebook aprendeu a lição da maneira mais amarga: na ânsia de monetizar a rede social, o programa Beacon foi lançado ao mercado em novembro de 2007 sem deixar claro que usuários ou não da rede social seriam “monitorados” para alimentar os perfis. O exagero empregado na coleta de dados forçou o Facebook a tirar a plataforma do ar para ajustes e ainda rendeu processos por invasão de privacidade à rede social. Nos últimos anos, o Google tem apanhado (com razão, em alguns casos) de grupos de defesa da privacidade em questões como o tempo dos cookies armazenados nos PCs dos usuários ou os termos originais exageradamente opressores do Chrome.
No que diz respeito à manutenção de dados que colhe diariamente dos seus milhões de usuários em suas dezenas de produtos, o buscador tem transparecido comprometimento com a manutenção do sigilo, principalmente na relação com governos.
Resta saber o quanto durará o comprometimento. Como o próprio Battelle resume para o IDG Now! de maneira exageradamente cética: “Nem toda empresa continua pura para sempre.”
É meus caros, a coisa não é fácil. Tomem muito cuidado com o que colocam na internet a seu respeito.
Grande abraço.

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