Eu ainda não tinha me manifestado
sobre esses protestos que tiveram nessas últimas semanas. Como eu ainda não
tinha formado opinião sobre o assunto, porque não sabia no que dariam essas
manifestações, realmente não quis me antecipar para defender quaisquer dos
lados.
Ao cabo dos movimentos de "mudança" no país, já se fala em
reforma política, em redução de tarifas de serviços públicos, em aperto fiscal
nas contas públicas etc. Longe de querer adentrar o mérito de se tratar de
movimentos previamente orquestrados pelos governos (pouco importa o partido),
para gerar o exato efeito desejado, isto é, fazendo uma análise apenas das
reivindicações dos movimentos, percebi que o que foi cobrado dos políticos é
exatamente aquilo que nós, como povo, não conseguimos ser.
Os políticos são os
representantes do povo e, como tal, são a expressão percentual de seus
representados. Se lá é um lixo, um pântano, uma podridão, é porque nossa
sociedade é exatamente igual. E isso começa nas pequenas coisas. Somos aqueles
que odeiam segunda-feira. Somos aqueles que "pegam" atestado com o
médico para não trabalhar. Somos aqueles que não dão bom dia no elevador, que
passamos o sinal vermelho, que, quando errados, ainda somos capazes de xingar
aqueles a quem ofendemos.
Somos aqueles que damos "jeitinho" para
tudo, que não devolvemos o troco dado a mais, que achamos legal dar golpe na
Previdência, no Fisco federal, que procuram advogados para sermos orientados
sobre qual a melhor forma de burlar a lei. Somos aqueles que traímos nossas
mulheres e maridos, que não damos atenção aos nossos filhos, que comemos até
esterco para sermos promovidos em nossos trabalhos. Preferimos o amor ao
dinheiro ao amor ao amor. Acordamos cedo reclamando do dia que virá e vamos
dormir tarde reclamando do dia que passou. Não temos longaniminidade, não temos
paciência. Buzinamos quando um velho atravessa a rua, mas achamos que estamos
salvando o mundo quando damos esmolas na rua para crianças que fazem malabares
no semáforo.
Confundimos religiosidade com filantropia. Sucesso com ascensão
profissional. Riqueza com dinheiro. Compramos carros cada vez maiores em ruas
cada vez mais estreitas (para andarmos sozinhos). Fingimos que estamos dormindo
quando um velho entra no metrô. Tudo isso regado a muita caipirinha, feijoada e
carnaval que é para entorpecer e nos fazer esquecer o quão mesquinhos e
individualistas somos. Tudo isso e muito mais que não lembrei aqui, só me faz
ter nojo de ser brasileiro. Estamos vendo no outro o mesmo defeito que temos em
nós mesmos e isso dói muito. Esse problema do brasileiro é essencial. Nada
mudará.
Os que estão lá somos nós mesmos. Tenho certeza que se estivéssemos
sentados nas cadeiras onde está o "manch" da nação, faríamos as
mesmas coisas, até piores. Ainda que tirem de lá todos aqueles que são ruins, o
fato é que o sistema privilegia a reposição dessas peças. Portanto, não se
iludam, pois esses protestos só serviram e servirão aos interesses daqueles a
quem eles visaram, justamente, prejudicar.
Observem, meus caros, que não
xinguei ninguém, não falei palavrões, não falei de teses e nem de partidos
políticos. Falei de mim e de você. Vocês até podem discordar, mas devem
respeitar esta opinião. Aliás, eu sou tão democrático que eu gostaria muito de
ouvir sua opinião, mas em alto nível, com discussão de ideias e não partir para
o pessoal.
"VAMOS SER NÓS MESMOS A MUDANÇA QUE QUEREMOS NOS OUTROS"
Felicidades a todos e vamos trabalhar, porque é isso que resta aos
bons brasileiros.
Voz da Consciência