quarta-feira, 27 de junho de 2012

NEM TUDO QUE SE PLANTA HOJE DEVE SER COLHIDO AMANHÃ



Por Pedro Henrique Pedroso (*)
da sucursal de Itararé/SP ("a pedra que o rio cavou")

Quem nunca pensou em deixar para fazer algo prazeroso no próximo fim-se-semana, no próximo feriado, nas próximas férias, ano que vem?

Ou então, será que somos capazes de contar as inúmeras vezes em que nos vemos dominados pelas preocupações acerca do dia de amanhã?

Ora, a palavra preocupação por si só se define (pré-ocupação), ou seja, seria uma ocupação antecipada acerca de algo que poderá ou não ocorrer.

Ao pensar nisso, porém, não seria a minha intenção conceder menos valor à virtude de se abdicar de momentos de prazer em nome de nossas atividades laborais, ou em face de nossas responsabilidades. Longe disso. É louvável o comportamento daquele que se abstém de uns goles de cerveja com os amigos, visando terminar algum projeto, encerrar algum trabalho.

Também não é minha pretensão, ao pensar neste assunto, estabelecer um paralelo entre o epicurismo (“carpe diem”) e o estoicismo (filosofia em que o trabalho e as virtudes sobrepõem o prazer imediato). Acredito que o que desejo expressar seja algo mais palpável, mais próximo de nosso dia-a-dia.

Do mesmo modo, também não estou a contestar a indiscutível importância do preparo e do ensaio em relação aquilo que haveremos de fazer no futuro, do que virá a acontecer amanhã ou depois. Apenas tento demonstrar que, sem o devido equilíbrio, acabamos permitindo que o ontem e o amanhã impeçam a concessão da devida importância ao hoje.

Acabo servindo-me dos pensamentos daqueles que já se ocuparam do mesmo assunto. Certa vez, John Lennon disse que “A vida é algo que acontece, enquanto estamos ocupados fazendo outros planos”. Sempre, a cada segundo, estamos pensando naquilo que faremos no instante seguinte. Mal terminamos de fazer algo, e já estamos pensando no que virá depois. Alcançamos um objetivo, vencemos um desafio, e novos objetivos e desafios surgem, tudo numa interminável sucessão de fazer e refazer, planejar e replanejar, pensar e repensar, inevitavelmente; eis a dinâmica de nossas vidas direcionadas pelo padrão ocidental-capitalista da produtividade.

 Por quê não somos capazes de finalizar algo, parar e contemplar aquilo que fizemos, dar um tempo? A resposta poderia ser, porque há contas a pagar, há projetos para terminar, há um status que deve ser mantido...

Mas aí, surge outra pergunta, na mesma linha de raciocínio do sábio de Liverpool; por quê não somos capazes de conceder a cada tarefa realizada sua devida importância. Embora não tenhamos escolhido nascer em um mundo em que o material condene o imaterial ao ostracismo, podemos escolher como viver no meio dessa selva infestada por abstração, impessoalidade e generalidades. O fato de que, em nossas vidas, existem, e sempre existirão cobranças e exigências é algo certo e irrefutável (a menos que nos isolemos em alguma tribo, ou nos tornemos membros do clero). Contudo, não é menos correto o fato de que podemos conceder novas matizes e novas cores àquela incessante sucessão de responsabilidades. Podemos, sim, não obstante o volume de obrigações, ver a vida de um modo mais especial, viver a vida de um modo mais leve.

Ao lado de nossos planos, caminham, de mãos dadas, nossas preocupações. Penso que seja aí onde realmente desperdiçamos uma quantidade imensa de energia e bom-humor. Sirvo-me, novamente, das citações de dois escritores. Og Mandino disse que “Deveria preocupar-me com os eventos que talvez jamais testemunhe?”. Com ainda mais ênfase, Mark Twain confessa que “Passei por coisas terríveis em minha vida, e algumas delas de fato ocorreram”.

Preocupações e adiamentos! Quantos dias de vida já desperdiçamos em seus nomes?

Vivemos adiando tudo. Basta um pequeno “flash-back” para demonstrar a veracidade de tal afirmação. Para não ir tão longe, voltemos até o período anterior ao ingresso na faculdade. Como o martírio dos estudos parecia ser suavizado com a imagem estereotipada da faculdade. Eis apenas um exemplo da maneira equivocada e inconsciente pela qual muitos de nós nos comportamos. Por quê passamos a vida nos convencendo de que no futuro, encontraremos a felicidade?

Pensamos, que, depois do ingresso na faculdade, seremos realmente felizes; depois da formatura, seremos verdadeiramente felizes; após a aprovação na ordem, seremos felizes; depois do casamento, seremos felizes plenamente; após comprarmos nossas casas e tivermos pago nossas contas, seremos felizes. Tudo bem, feito isso, aí adiamos a felicidade para depois que os filhos nascerem. Nascidos, para depois que crescerem. Ora, cresceram, aí vem a adolescência; tudo bem, depois dessa fase, será mais fácil, aí seremos felizes. Após a aposentadoria, seremos felizes, quando estivermos com a poupança recheada, seremos felizes...

E durante todo esse tempo, será que os grãos de areia deixaram de cair?
Não vejo por que adiarmos a felicidade para o futuro. Não há motivo para depositarmos nossas energias em algo que não temos, em algo que não conquistamos, ainda. Ressalte-se, ainda! E se, por ventura não viermos a ter ou a conquistar, paciência, pois houve inúmeras outras conquistas. Não devemos, jamais, associar o ser ao ter. Não somos o que possuímos, somos o que fazemos, e o modo pelo qual fazemos é o fator diferencial em nossas vidas, ainda que os resultados não se revelem da maneira esperada.

Tudo é uma questão de tempo. Nesse meio termo, devemos perceber o valor extraordinário de tudo aquilo que nos rodeia, e, principalmente, daqueles que nos cercam, estejam fisicamente presentes ou não.

Quantas vezes, num domingo chuvoso e aparentemente entediante, não desejamos estar em uma praia quente e ensolarada? Ah, aí sim estaríamos felizes e contentes...

Seríamos capazes de recordar em quantas oportunidades, nas difíceis horas de trabalho, durante a semana, sonhamos com o próximo sábado?

Será que não encontramos a felicidade em momentos como estes, simplesmente porque nos tornamos incapazes de vislumbrar tudo o que há de fantástico e maravilhoso nas coisas e acontecimentos mais comuns de nosso cotidiano?
Richard Carlson aduz que “Não há época melhor para sermos felizes do que agora. Se não for agora, então, quando?”

Outro pensador, Alfred D’Souza, afirmou que “Por algum tempo me pareceu que a vida estava prestes a começar – a vida verdadeira. Mas sempre havia um obstáculo ou outro no caminho, algo que deveria ser feito antes, um negócio inacabado, tempo por vir, dívidas a pagar. Aí, sim, a vida começaria. Então, eu despertei para o fato de que esses obstáculos eram a minha vida”.

Encontremos, caríssimos, a felicidade em tudo o que fizermos!

Sejamos felizes onde estivermos!

O ontem já passou, não voltará!

O amanhã, é uma incerteza, sequer sabemos se virá!

São Mateus nos alerta que não devemos nos preocupar com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã cuidará de si mesmo.

Digamos um basta aos adiamentos!
Amanhã, 

no fim-de-semana,

no feriado,
nas férias,
ano que vem?

Não, agora!

E, para finalizar, recorro novamente ao sábio Og Mandino, “Desfrutarei hoje, a felicidade de hoje. Ela não é um grão, para ser armazenada numa caixa. Ela não é vinho, para ser guardada numa jarra. Ela não pode ser guardada para o dia seguinte. Deve ser plantada e colhida no mesmo dia.”

Meus caros, pensem nisso!

Um forte abraço para todos.

(*) Nota do "VOZ": Pedro Henrique Pedroso é advogado e nosso amigo pessoal. Uma alma iluminada que Deus nos deu o privilégio de conhecer. Além do conhecimento jurídico, Pedro possui uma ampla visão de mundo, nos fazendo concluir, por meio de suas colocações, que a vida é bela!