sexta-feira, 15 de abril de 2011

VALE A PENA AJUDAR ALGUÉM?



por Rodrigo Barros

Ajudar! Qual o real sentido dessa palavra?

Segundo o nosso vernáculo, a palavra "ajudar" tem a acepção de facilitar, servir, contribuir para que alguém faça alguma coisa.

O ser humano é um ser social. De uma forma ou de outra estamos sempre precisando do outro para a consecução dos nossos objetivos, de modo que "ajudar" envolve sempre uma outra pessoa sendo, portanto, essencialmente, um conceito que envolve pluralidade.

Quando ajudamos alguém a conseguir alguma coisa e esta nos retribui com algo previamente combinado, há entre essas pessoas um contrato e a ajuda é alcunhada de prestação de serviço.

Existe também a ajuda que as pessoas, a despeito de não terem uma contrapartida, praticam por conta de uma obrigação legal ou familiar.

Todavia, quando a ajuda é feita de maneira descompromissada entre as pessoas, as razões que movem o humano são variadas: caridade, pena, amor, culpa, medo etc.

Nesta última modalidade de ajuda gostaríamos de nos demorar um pouquinho mais.

Segundo nos ensinou Jesus Cristo:

Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)

Não devemos, portanto, alardear tudo que fazemos para ajudar as pessoas. Além de não agradar a Deus, incorremos na hipocrisia.

Por outro lado, quando nos dispusermos a ajudar alguém de coração, também não devemos ficar aguardando que esta reconheça o seu feito alardeando aos quatro cantos o que se fez.

Todavia, não podemos deixar de apontar a circunstância daquela pessoa que ajuda outrem e, mesmo sem alardear aos outros, mesmo sem esperar um reconhecimento, acaba se prejudicando pela ação da própria pessoa a quem ajudou.

Felizmente, a maioria das pessoas quando é ajudada têm dentro de si um sentimento de gratidão eterna. Mesmo que o ajudador não tenha solicitado nada, o ajudado permanece com aquele sentimento de admiração, respeito e carinho que perdurarão por muitos anos.

Não raro, contudo, por incrível que possa parecer, quando alguém ajuda outra pessoa, vários sentimentos negativos podem ser gerados no âmago do ajudado: vergonha e inveja são os mais comuns.

Muitas vezes, a ênfase na atitude de ajudar do ajudador faz com que o ajudado se sinta humilhado ou coisa que o valha. Nesse caso, a ajuda soa como arrogância do ajudador, algo que ele faz para satisfazer seu próprio ego, seja por superioridade, seja por mera diversão.

Por outro lado, há hipóteses nas quais aquele que ensina é alvo de inveja do ajudado, que por não possuir o mesmo conhecimento ou não ter a mesma competência, não possui humildade suficiente para assumir sua condição, não aproveitando tudo aquilo que recebe do ajudador, bloqueando o seu crescimento.

Pior do que isso, que só prejudicaria o próprio envergonhado/invejoso, é quando essa pseudo humilhação gera o sentimento do indivíduo prejudicar aquele que mais o ajudou. Isso é lamentável!

Por conta de sentimentos mesquinhos e de falta de humildade, aquele que deveria ser eternamente grato pela sua ajuda, na primeira oportunidade que tem, "puxa o seu tapete".

Na sua frente, tece elogios e promove bajulações públicas. Na sua ausência, menospreza tudo o quanto você fez em prol do seu orgulho ferido.

O ser humano realmente nos surpreende a cada dia. Vivemos num mundo onde, por mais que façamos o bem e tentemos ajudar as pessoas a alçar os seus vôos, estamos sempre em desvantagem.

Isso poderia levar você a crer que estamos fazendo uma apologia a que não se ajude a quem quer que seja. Mas isso não é verdade.

Depois de muito observar as atitudes das pessoas, concluimos que devemos ajudar a todos sim, mas com um tempero especial. Segundo o que diz o filósofo oriental Kung-Fu-Tse (Confúcio): de nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos.



A ajuda deveria gerar no ajudado um único sentimento: a gratidão, mas não é o que ocorre sempre.

Todavia, para não penalizarmos outras pessoas que desejam nossa ajuda e a nossa benevolência, que nos são impostas por padrão moral de conduta, conclamo a todos a seguinte reflexão: ajudemos a quem quer ser ajudado. Gastemos nossas energias e forças com aqueles que não se envergonham ou não têm inveja daqueles que, de alguma maneira, os ajudam em algum setor de suas vidas.

Ao longo das nossas existências, somos forçados a nos curvar à sapiência e à boa vontade de muitas pessoas que nos ajudam a vencer nossas dificuldades cotidianas. Digo que somos forçados porque, ainda que não desejemos, a vida nos põe diante de desafios onde somos obrigados a admitir nossa impotência, gerando a necessidade de nos associarmos a outros para o nosso crescimento e para a consecução de nossos objetivos.

Humildade é tudo!

Reflitam. Fiquem com Deus.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

MASSACRE NO RIO: Uma Visão Diferente



Prezados leitores,

Como sabem nosso blog não aborda aspectos da violência do cotidiano. Não é nosso propósito explorar a desgraça e a tragédia pessoal de ninguém. Todavia, com a barbárie ocorrida no dia de ontem, foi impossível ficar calado!

No dia de ontem, 08 de abril de 2011, uma desgraça acometeu os nossos irmãos fluminenses. Um sujeito completamente descontrolado, adentrou a uma escola municipal e, covardemente, executou 12 crianças, ferindo outras dezenas.

Os fatos todos sabem porque foi amplamente difundido pela mídia nacional e mundial. Autoridades, religiosos, populares, todos solidarizaram-se com o ocorrido.

Esta espécie de barbárie ainda não havia ocorrido no Brasil. O mais perto que chegamos disso foi o episódio do médico maluco que saiu metralhando uma plateia num cinema de São Paulo.

No episódio de ontem, foram os nossos "brasileirinhos" as vítimas, parafraseando a presidente Dilma Rousseff em seu pronunciamento.

É lamentável que algo dessa envergadura tenha ocorrido, quanto mais no âmbito de uma escola que fica no bairro de Realengo, que tem péssimo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e baixíssima renda per capta, onde as pessoas já convivem com a dificuldade normal de suas duras vidas.

O conjunto de fatos que marcou tragédia de ontem, chamou nossa atenção por uma série de aspectos.

A crueldade com a qual aquela desgraçada alma ceifava uma parcela do nosso futuro era de se espantar. Pessoas acostumadas com a violência, como os policiais que estavam no local, estavam supresos com tamanha barbárie. Era, segundo consta, um cenário de guerra e terror. Sangue espalhado por toda a escola, em meio a uma generalizada bagunça.

Outro aspecto a ser ressaltado foi a facilidade com a qual o meliante manuseava sua arma e continuava com todo seu poderio de fogo contra as indefesas crianças. Onde ele aprendeu tudo aquilo? Quem vendeu essas armas e munição a ele? Porque ele fez isso? São perguntas ainda sem resposta!

Como no Brasil as coisas precisam acontecer para as pessoas acordarem, muito se ventilou nos meios de imprensa sobre a segurança nas escolas etc. Mas eu pergunto a você, leitor inteligente de nosso blog: você desconfiaria de um desgraçado desses no meio da rua? É claro que não!

O sujeito tinha uma aparência pacata, não falava com quase ninguém, não possuía antecedentes criminais e nem envolvimento em qualquer tipo de confusão. Por que a mídia fica tentando achar culpados? Nesse episódio o único culpado já está morto, e é o próprio criminoso.

Para os críticos de plantão é muito cômodo falar nesse momento que a sociedade tem culpa, e que esse desgraçado é produto dos próprios preconceitos sociais e de um sem número de carências afetivas. É fácil também dizer que as escolas devem ter vigilância permanente e que a segurança pública carece de maior efetivo nessa área. Difícil é admitir que existem situações que escapam a qualquer tipo de controle!

Alguém diria que aquele médico imbecil iria metralhar uma platéia inteira num dos shoppings centers mais elitizados da capital paulista? Você seria capaz de, ao contrário do que ocorria na escola do Rio, dizer que no Shopping Morumbi não havia segurança suficiente?

Se a segurança permanente adiantasse, não teríamos tido o episódio nesse shopping que acabei de mencionar! Acordem! Chega de hipocrisia! Esse camarada faria o que ele fez mesmo com toda a segurança do mundo. Ninguém desconfia de um "mosca morta" desse naipe.

Já conseguiram derrubar o World Trade Center e parte do Pentágono! Depois disso, nenhum lugar no mundo é suficientemente seguro.

Isso foi obra do acaso! O fatídico evento de ontem não tem nenhum culpado: nem a segurança, nem a educação, nem a sociedade. Ninguém!

Para piorar a situação, uma parcela da mídia ainda enfatizou que o endoidecido sujeito mencionou os sagrados nomes de Deus e do Senhor Jesus Cristo na sua carta suicida, como se o massacre tivesse algo relacionado com um tal fundamentalismo religioso. Onde isso vai parar?

Se não há limites para as especulações infundadas da mídia, paramos nós por aqui.

A dor, o sofrimento e a lembrança deste fatídico evento fircarão para sempre na lembrança dessas criancinhas que não tinham nada a ver com a mente psicótica desse sujeito.

O "Voz" solidariza-se com as vítimas, físicas ou psíquicas, dessa tragédia.

Um abraço a todos

Rodrigo Barros

domingo, 3 de abril de 2011

BRASIL: O Incrível Caso do País sem Direita


Não há partidos conservadores no Brasil. O único liberal de peso agoniza depois de perder nomes importantes. E não há perspectivas de mudança.
 
O espectro político brasileiro é peculiar: na ponta esquerda, tem o jurássico PCO. Passa por socialistas radicais, como o PSOL e o PSTU, pelos comunistas conformados do PPS, pelos social-democratas do PT e do PSDB, pela esquerda verde do PV e se encerra no centro, onde estão PP e DEM. Não há, entre os 27 partidos brasileiros, um que se assuma como direitista. E o recente anúncio da criação do PSD, que se define como social-democrata, abre um buraco no DEM e empurra o eixo da política brasileira ainda mais para a esquerda.

A situação é única. Todas as grandes democracias do mundo têm ao menos um partido conservador forte, como o PP espanhol, o Partido Republicano dos Estados Unidos, a UMP francesa e o PDL italiano. O que teria levado a direita brasileira à lona enquanto, em outros países, como os vizinhos Peru e Colômbia, ela ocupa o poder máximo? Para especialistas e políticos ouvidos pelo site de VEJA, a causa está na herança maldita da ditadura militar.

O primeiro a definir o conservadorismo como uma doutrina política foi o inglês Edmund Burke, no século XVII. Esta corrente política considera que os indivíduos realizam as coisas melhor do que o estado. Que as liberdade individuais devem ser mantidas a todo o custo. E que os valores tradicionais da sociedade devem ser preservados. Nas democracias modernas, o conservadorismo se traduz como uma recusa ao estatismo, a defesa do livre mercado, a proteção da família e a oposição a medidas como a legalização de drogas e do aborto.

No Brasil, o discurso adotado pelos partidos políticos pouco se diferencia: todos adotam termos como “justiça social”, “distribuição de riqueza”, “igualdade”. Obviamente, ninguém é contra essas bandeiras, mas o linguajar denuncia que todos, por razões diversas, adotam um vocabulário de esquerda. Expressões como "livre iniciativa", "responsabilidade individual" e "valores morais" raramente são ouvidas pelos corredores do Congresso ou do Palácio do Planalto. As palavras “social” e “trabalhista” e “socialista” aparecem na maioria dos nomes das legendas. Há apenas um partido que faz referência ao liberalismo – o PSL, que, ainda assim, também se diz social – e nenhum que tenha a expressão "conservador" no nome.

Situações peculiares – O declínio de valores não-esquerdistas se acentuou a partir do governo Lula, quando o PT moderou seu posicionamento e roubou parte do discurso de partidos de centro. Legendas que a princípio eram pouco afeitas às ideias do partido deixaram as diferenças de lado para ingressar na partilha do poder: é o caso do PR, que resultou da fusão do PL com o Prona, do PTB, do PP e do PMDB. Todos se dizem centristas.

O adesismo inflou o bloco governista e juntou a esquerda moderada, a socialistas anacrônicos e a arrivistas de olho na divisão de benesses. Com isso , o PT arrastou consigo praticamente todos os partidos com algum peso. PSDB e DEM permaneceram na oposição mais por questões estratégicas do que programáticas. "Os partidos não se posicionam amparados em raízes históricas, mas em razões conjunturais", opina o cientista político Leonardo Barreto. Para ele, há espaço para o surgimento de uma legenda conservadora no país.

Na falta de uma direita verdadeira, a esquerda acaba inventando a sua própria: "Oposição à direita é um erro grave porque você tem um país com contradições sociais gravíssimas, concentração de renda das maiores do mundo. Quer concentrar mais? À grande maioria isso não interessa", diz o primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, para quem a direita trabalha para aumentar a injustiça no país.

Mesmo entre a oposição, o discurso ideológico não é afinado: o presidente do PPS, Roberto Freire, faz uma diferenciação: “Existe a oposição de esquerda, como o PSOL, PSTU e parte do PSDB. Na oposição de direita temos o DEM”. O rótulo, no entanto, é descartado pelos próprios democratas.

Trauma da ditadura -  Mesmo o autoproclamado centrismo do DEM parece não ser bem recebido no meio político: o partido, em eterna crise de identidade, já se refundou duas vezes e tenta se livrar da pecha de conservador. Da última vez, tentou colar a imagem ao Partido Democrata americano – que, por lá, abriga diversos matizes da esquerda. Ainda assim, vem sofrendo sucessivos golpes, vindos de dentro e de fora. O último deles é o nascimento do PSD de Gilberto Kassab.

O presidente do DEM, José Agripino Maia, reconhece que as bandeiras de seu partido se limitam à defesa do “liberalismo moderno”. Ao site de VEJA, ele torceu o nariz quando indagado sobre a dicussão de temas que costumam pautar os partidos conservadores, como o casamento gay, o aborto e a liberação de drogas: “Isso não é o carro chefe do partido”.

De fato, o DEM não pode ser definido como um partido de direita: bandeiras como a redução da maioridade penal, o endurecimento da punição a criminosos e a oposição ao desarmamento civil não são bandeiras pela qual o DEM se empenha. “No Brasil, a direita é muito vinculada aos regimes totalitários e estamos totalmente fora disso. O que é esquerda? Muro de Berlim, Cuba? Estamos fora disso também”, diz Agripino Maia. O antigo PFL, aliás, esteve ao lado do governo petista na defesa do desarmamento da população civil, em 2005.

O deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) se alinha a bandeiras clássicas do conservadorismo, como a defesa da livre iniciativa, a não-interferência do estado na vida do cidadão e oposição à legalização do aborto. Mas não se assume como direitista. Para ele, o rótulo só faria sentido em países onde há tradição de uma direita democrática, o que não existe no Brasil. “Aqui não existe essa tradição", explica.

Não por acaso, os partidos não foram capazes de sintetizar a oposição do eleitorado brasileiro à legalização do aborto. Na última campanha eleitoral, o tema surgiu quase de forma clandestina, em discussões na internet e nas igrejas. O PSDB de José Serra veio a reboque, aproveitando-se do tema para criticar a petista Dilma Rousseff – que, por sua vez, se apressou em tentar apagar o passado e dizer que nunca havia defendido a legalização do aborto.

Petistas e tucanos, aliás, têm mais similaridades do que diferenças. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, reconhece que a disputa tem mais a ver com a aplicação das ideias do que com a orientação ideológica: "O PT, no poder,adotou as propostas do PSDB. Não inovou. Não há nenhum programa social novo. Ocorre que a execução é que é diferente. Geralmente, a postura do PT é mais promíscua em relação ao Legislativo", afirma.

Falta tradição –  Para o cientista político Ricardo Caldas, a rejeição ao rótulo de direitista está ligada à herança negativa deixada pelas legendas conservadores no país. Estes partidos foram contra a abolição da escravidão, contra o fim da monarquia e, na figura da Arena, apoiaram o regime militar. Não é uma ficha corrida das melhores. "Eles tiveram dificuldade de conviver com a democracia e ficaram com essa pecha de antidemocráticos."

O especialista acredita que a direita brasileira não se modernizou. Em vez disso, foi engolida pelo recente pragmatismo de esquerda, difundido pelo PT, ou aderiu ao outro lado por oportunismo eleitoral. Se o espectro político brasileiro vai da extrema-esquerda ao centro, a disputa pelos principais postos de poder está ainda mais restrita. Em 2010, só havia candidatos de partido de esquerda na disputa pela Presidência da República.

por Fernanda Nascimento e Gabriel Castro (Veja) 03.04.2011