Caríssimos leitores,
Nesses dias eu terminei de ler um livro que eu gostaria muito de indicar aqui para vocês e, também, claro, dar o meu tradicional “pitaco” sobre a obra. Pois bem.
Estou falando da obra que dá título a esse nosso post: A Felicidade Desesperadamente, de André Comte-Sponville, que é um filósofo materialista francês, nascido em 1952 (felizmente ainda vivo) e, famoso pelo livro “O Espírito do Ateísmo” (que não li ainda, mas, em breve o farei pra gente tricotar aqui).
Eu, particularmente, gosto muito do autor, pois ele é extremamente didático, além de ter alta influência do filósofo Baruch Spinoza, a quem eu também sou bastante filiado, diga-se de passagem.
Trata-se de um livrinho pequeno em tamanho, mas grande em conhecimento e profundidade filosófica. Uma verdadeira preciosidade.
Ele se vale da palavra “desespero” numa concepção bem bacana, no sentido de que a felicidade está tanto mais perto da gente, quanto mais distantes estamos da esperança. É isso mesmo! Você não leu errado não! Segundo Sponville, ser feliz é vencer a esperança.
Você pode estar se perguntando: - Mas que diabos esse cara está falando??? Se perdermos a esperança estamos lascados... Tem até ditado popular “a esperança é a última que morre”. Não dá pra entender isso!!!
Pois é. Eu comecei de nariz torcido e fui positivamente surpreendido pela tese. Olha só!
O desejo, usualmente, é um afeto sobre aquilo que nós não temos, pois, afinal, quando conseguimos, não desejamos mais. Assim, o desejo está voltado para a falta, para aquilo que não é. Quando desejamos o que não temos ou aquilo que não é, ficamos perturbados e, portanto, infelizes. No reverso da medalha, porém, quando conseguimos o que queremos, já não desejamos mais, pairando sobre nós o sentimento de tédio.
E vamos, nós humanos, nesse pêndulo que transita entre o vazio - pelo desejo que paira sobre o que não temos -, e o tédio – por termos conseguido o objeto do desejo. Nesse caso, somos levados a desejar outra coisa, retornando ao status quo de infelicidade.
Segundo o autor, esse mecanismo gera nas pessoas uma profunda infelicidade e sofrimento, pois tudo quanto tributamos nossas alegrias se encontra em um tempo futuro ou condicionada a um evento que se dará em algum momento que não o hoje, causando-nos ansiedade, pressa, doenças psiquiátricas e todo tipo de malefícios. Nossa mente foge do presente, onde é exatamente onde a vida está acontecendo. Não nos regozijamos, pois, com o que temos e com as coisas como elas se apresentam.
Aí ele mostra algumas maneiras as quais estamos habituados a lançar mão, de como a gente tenta tapar essa lacuna do sofrimento, que é resultado de nossa projeção para o futuro: fingimos alegria, nos jogando a diversões uma seguida da outra; o entretenimento; as telas de celulares, com suas redes sociais e a necessidade de exaltarmos o narcisismo; a esperança em ganhar na loteria; a esperança em Deus e nos dogmas religiosos e tantas outras questões, todas elas, para o autor, sempre, de algum modo, esperando o alcance da felicidade em cima de fatores futuros os quais não podemos controlar.
Digno de nota de minha parte, quando eu estava lendo, pensei no capitalismo. Como ele captou bem a essência de nossas inquietudes e trabalha bem com isso, a fim de nos deixar o tempo todo entretidos e sempre desejosos pelos nossos próximos desejos futuros, trazendo uma falsa percepção de felicidade.
Exatamente por isso, o autor propõe o rompimento com a esperança. Com a colocação de nossa felicidade em cima de algo que não temos.
Para ele, toda esperança é um desejo, mas nem todo desejo é uma esperança. Ele define que a esperança é o desejo sem gozo – porque, se ainda não temos o que desejamos, não temos o devido proveito -; sem conhecimento – pois se ainda não temos, não sabemos se vamos ter -; e, sem agir – na medida em que não tenho o poder sobre aquilo que não depende de mim.
Nesse passo a ideia é que sejamos “desesperados”, isto é, despido de esperanças. Temos que desejar o que temos. O que está acontecendo agora, com apetite e potência. Viver no presente.
É claro que ele coloca isso no plano ideal, isto é, com uma forma de buscar isso como meta. Reconhece as dificuldades que temos considerando o ritmo da nossa vida em sociedade.
Mas, de todo modo, sugere um olhar cauteloso para que dependamos menos das esperanças e finquemos mais nossos pés naquilo que temos efetivamente e no tempo que vivemos.
Pode parecer uma teoria inaplicável, mas, acreditem, isso faz muita diferença na vida da gente, quando o ângulo de visão sobre isso nos é descortinado. É uma abertura de consciência na tentativa de vivermos com mais plenitude, aquilo que eles, filósofos mais tendentes ao estoicismo, chamam de eudaimonia, que seria um estado de contentamento.
Eu recomendo muito a vocês essa obra. Comente aqui embaixo sobre o que você achou do livro e vamos fazer um debate bacana sobre esta ideia de ser “desesperado”.
Um abraço!